POR QUE UM ABIAN DORME EM UMA ESTEIRA ?

Vamos entender melhor essa questão.



A Simbologia da Esteira no Candomblé: Raízes, Ritos e Respeito


Dormir na esteira é mais do que um ato físico; é uma conexão profunda com as raízes ancestrais. O iaô, aquele que está iniciando no candomblé, deita-se sobre a esteira para se reconectar com o elemento que lhe deu vida: a terra. Nesse momento, ele deixa de lado a vaidade, as trivialidades e os confortos modernos, renascendo de forma humilde.

As esteiras, conhecidas como "decisa" na nação bantu, "enim" na iorubá e "zocré" pelo povo fon, são feitas de palha, um símbolo associado a Obaluaiê. Durante as cerimônias de iniciação, é comum usar a esteira nagô (nàgô), uma versão fina feita de palha trançada. Outro tipo de esteira, mais rústica, é utilizada em algumas casas para as funções relacionadas a Babá Egum.

No entanto, nem todas as divindades aceitam o uso da esteira. Por exemplo, Ossâim, cujos filhos devem dormir em camas feitas apenas de folhas, ou os iniciados de Exu, que usam couro de boi como cama. As divindades fazem suas escolhas, e os seres humanos devem respeitá-las.

Além de servir como local de descanso, a esteira também funciona como uma "mesa" durante o recolhimento. O iaô realiza suas refeições sobre ela. Por isso, é fundamental que o iaô trate sua esteira com reverência, evitando pisá-la ou permitir que outros o façam, especialmente calçados. Na esteira do iaô, nenhum estranho pode se sentar. Nossos mais velhos ensinam que "o iaô come e dorme na esteira" para se sentir parte integrante da natureza e dos orixás.