O Poder Ancestral:
Compreendendo o Papel Fundamental e a Influência dos Babá Eguns na Sociedade Iorubá
Os Babá Eguns (Bàbá Égùn) são mais do que meros antepassados; eles são espíritos ancestrais masculinos, muito antigos e divinizados. Forças centenárias e poderosas, originárias das regiões iorubás da África, geralmente provêm de famílias ilustres, reais, dinastias familiares ou de governantes-protetores e benfeitores de cidades e comunidades. Sua antiguidade é tal que alguns podem ter idade milenar, sendo impossível situá-los cronologicamente.
O culto a Babá Egum não é apenas uma reverência ao passado, mas um sistema vital que molda a vida e a sociedade iorubá de maneira profunda e contínua.
O Papel Fundamental e a Influência Contínua dos Babá Eguns:
- Orientação e Ajuda Essencial: O objetivo primordial do culto é orientar esses espíritos para que se tornem visíveis, permitindo que os seres humanos compreendam um mundo desconhecido e, assim, a continuidade da vida. Eles oferecem auxílio tanto individualizado quanto a grupos ou à sociedade em geral, auxiliando quem os procura.
- Estabelecimento de Regras e Ensinamentos Morais: São os Babá Eguns que impõem ensinamentos morais, regras de convivência, comportamento e hierarquização no dia a dia e na religião. A obediência a essas regras é fundamental e estende-se até mesmo entre eles e os demais irunmolés, que atuam com independência, mas com respeito recíproco aos seus patamares.
- Impulso para o Futuro e Evolução: Embora ligados ao passado pela sua antiguidade e senioridade, os Babá Eguns têm a capacidade de impulsionar os humanos para o futuro e influenciar a evolução. Essa ancestralidade auxilia, orienta e pode até propor mudanças na vida e no modo de pensar das pessoas, demonstrando sua condição patriarcal. Essa ajuda é harmoniosa, não gerando conflitos com orixás ou outras divindades, sendo a força conjunta da ancestralidade auxiliando sua descendência.
- Arbitragem e Intercessão: Babá Egum atua como árbitro em questões entre homens e orixás, geralmente sem pender para um lado. Em situações graves cometidas por humanos, eles intercedem perante a corte dos irunmolés para amenizar as penas, buscando formas mais brandas de saldar dívidas terrenas. Contudo, não hesitam em infligir sérias atribulações àqueles que agem contra as normas da religião, da ética e da moral.
- Manutenção da Estrutura Social: Os Babá Eguns são mantenedores da estruturação da sociedade, sendo responsáveis por administrar e orientar a vida familiar, social, financeira, jurídica e política de um segmento ou de toda uma comunidade.
- Preservação e Perpetuação da Tradição: O culto a Babá Egum tem atravessado várias gerações sem mudanças radicais em suas tradições, permanecendo envolto em mistério e segredo no século XXI. Isso se deve ao fato de que, mesmo com poucas casas dedicadas a este segmento, todos buscam seguir os mesmos ensinamentos e fundamentos passados pelos antigos fundadores, sem modificá-los ou descaracterizá-los.
- Conexão Profunda com Divindades: Diversas divindades participam do culto. Oiá é a principal, ligada aos ancestrais, comandando e transferindo os eguns entre o aiê (mundo físico) e o orum (plano espiritual). Nanã, Iewá, Odudua (reconhecida por Egum como o ventre gerador da vida e recebedora da morte), Orixalá, Obaluaiê e Xangô também interagem com Babá Egum, conectando os dois lados da existência. Os Babá Eguns mais antigos podem ser considerados os primeiros seres humanos masculinos adotados pelos orixás, criando um elo que se reflete na vida humana, onde cada pessoa pode ter um Babá particularizado para atendimento, de acordo com seu orixá.
- Apoio a Indivíduos Específicos: Existem seres humanos muito privilegiados, chamados maxeregun (maṣérègùn), que recebem ajuda suplementar e grandiosa de determinados Babás, possivelmente por terem sido ancestrais diretos ou amigos queridos. Essas pessoas recebem auxílio e proteção eternos, mas devem agradar e seguir os conselhos dos Babás em agradecimento.
Estrutura e Guardiões do Culto:
A hierarquia dentro do culto é bem definida. Existem os Babá-agbás, os mais antigos e poderosos, que têm o direito de falar (ké), e os aparacás (apáàràká), Eguns mais novos que não falam e que geralmente fiscalizam as partes exteriores dos Ilês de Egungum.
Os ojés (sacerdotes) são figuras centrais, responsáveis por invocar e guiar os Babá Eguns. Os babá ojés são considerados intermediários entre os vivos e os mortos, guardiões de vastos segredos e vivem entre os dois mundos. Eles utilizam o ixã (iṣán), uma vara feita de atorí, para invocar, guiar, orientar e mandar os Eguns de volta ao orum, e o ixã horizontalizado no chão cria uma fronteira intransponível entre os mundos. Os ojés formam um grupo seleto e fechado, com funções muito específicas, que exigem conhecimento de segredos sobrenaturais.
As casas de culto a Babá Egum possuem semelhanças estruturais com as casas de candomblé, mas com três segmentos distintos: um aberto ao público, um fechado para iniciados e um espaço privativo onde apenas o alapini, os alagbás e os ojés penetram para cuidar dos assentamentos e consultas. O alabá (alagbá) é quem chefia e administra uma casa de culto. O alapini é o sumo sacerdote, a autoridade suprema do culto.
Embora o culto seja predominantemente masculino e muito fechado, a participação feminina é crucial. Mulheres, chamadas ató, contribuem para o equilíbrio e harmonização das energias, e embora não participem dos rituais secretos, são essenciais nos cuidados com o egbé (comunidade). Postos como Iyá egbé ("mãe da comunidade"), iyá mondê e Iyá agã são exemplos da importância feminina.
Manifestação e Continuidade:
Os Babá Eguns se manifestam nos terreiros usando roupas enfeitadas com espelhos, búzios, favas, guizos e tiras de pano coloridas, chamadas abalá, que os tornam visíveis e os individualizam. Complementadas pelo awon, uma tela que representa o formato de um rosto, é por meio dela que se comunicam com os homens através de uma voz rouquenha e gutural, denominada segí. Cada Babá possui também seu ké, um brado ou grito que anuncia sua chegada e o particulariza.
Apesar de poucos serem os escolhidos para participar deste segmento, o culto a Babá Egum ainda possui ampla sobrevivência, especialmente na Ilha de Itaparica, Bahia, e continua sendo promovido e perpetuado em outras regiões como Rio de Janeiro e São Paulo.
Em suma, os Babá Eguns são pilares da vida e da sociedade iorubá, mantendo a estrutura social, transmitindo sabedoria, arbitrando conflitos e conectando o presente ao passado para impulsionar o futuro. Sua influência é uma força ancestral e contínua, reverenciada e protegida com mistério e dedicação.
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