Dudu Fagundes – Herança, Tradição e Ativismo no Candomblé

 A história de Dudu Fagundes no Candomblé começa ainda no berço, marcada pela forte influência de sua avó e, principalmente, de seu pai, o respeitado Babalorixá José Carlos Fagundes (em memória), conhecido como Zé do Bode. José Carlos foi iniciado na casa de Pai José Mauro, no bairro Monserrat, integrando o primeiro barco dessa casa, feito por Pai Diniz de Osún, filho de santo de Pai Baiano.

 Seguindo os passos da família, Dudu foi iniciado no Candomblé aos três anos de idade, no Ilê Alaketu Àsé Airá (Axé Batistini), levado por seus pais e seus irmãos carnais, Badangue e Edgard. Seu ritual de iniciação foi conduzido pelo saudoso Tatá Pérsio de Xangô (Pai Pérsio), onde passou a ocupar dois postos de responsabilidade: Jagun Jagun Ilê Àsé e Omo Korin (o filho que canta). Sua mãe, do orixá Osún, e seus irmãos — Badangue de Ogún, Edgard de Sàngó e Dudu de Oxoguian — também foram iniciados no mesmo barco, formando uma linhagem religiosa sólida e respeitada.


 Hoje, Dudu é um dos herdeiros do Instituto Oxum Obi Ala Omi, fundado por seu pai, onde ocupa o cargo de Baba Egbe. Além disso, também é Omo Korin no Ilê Alaketu Axé Ayra. Apesar de não ter sido confirmado como ogã — tradição comum para filhos de Babalorixás que são preparados para a sucessão da casa — Dudu domina o toque dos atabaques desde criança, tendo aprendido com grandes mestres da percussão nos terreiros.


Ele reforça sempre que o Candomblé é uma religião de hierarquia, e apesar de enfrentar desafios e preconceitos por sua juventude, nunca deixou de lutar pela valorização da tradição e pelo respeito à ancestralidade. Para ele, manter viva a essência do Candomblé afro-brasileiro é uma missão.



A Força da Tradição Familiar

 Seu pai, José Carlos Fagundes, foi um importante Babalorixá de Oxóssi em São Paulo, com casa estabelecida na zona sul (bairro Americanópolis). Zé do Bode teve 28 filhos carnais e mais de mil filhos de santo durante a década de 1990, tornando-se uma figura histórica do Candomblé paulistano. Ele também abrigava e ajudava africanos recém-chegados à cidade, especialmente nigerianos, criando um forte intercâmbio cultural e religioso que moldou o conhecimento de Dudu sobre produtos de axé, objetos rituais e magias ancestrais.

Família e Continuidade do Axé

 Dudu é casado com Roberta Maris, filha da Iyalorixá Izimares de Ologunede, e juntos mantêm o Ilê Àsé Omo Igbo Omi, localizado no bairro de Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo. No terreiro, Dudu ocupa o cargo de Apa Otun, sendo um dos principais responsáveis pela organização, estrutura e condução das atividades religiosas e culturais.

Dudu fagundes possui 4 filhos todos ligados ao axe e ja iniciados: 
  • Diego Phelipe, de 15 anos, iniciado para Oxóssi
  • Arthur, de 9 anos, filho de Ayra
  • Aurora Maris, de 6 anos, filha de Oxum
  • Ravi Lucca, de 1 ano, filho de Ogum

 Essa linhagem representa a continuidade viva do axé familiar, reforçando a missão de preservar e fortalecer a tradição afro-brasileira para as próximas gerações.


 As festas realizadas no terreiro, especialmente as dedicadas aos Caboclos — como a do Caboclo Pai Gentil da Aldeia Grande — atraem entre 1.000 a 1.500 pessoas, em celebrações marcadas por espiritualidade, cura e agradecimento. Além da ancestralidade vinda do lado paterno, a família de Roberta carrega um legado profundo: sua avó, Mãe Valdelice de Nanã, foi a primeira Yalorixá de Ermelino Matarazzo, fundada em 1950.




Trajetória Profissional e Atuação Cultural

 Além de sua dedicação religiosa, Dudu Fagundes construiu uma sólida carreira como agente cultural e educador:

  • Palestrante no Centro Cultural Omi Aladô (2016–2018)
  • Ritmista da Escola de Samba Vai-Vai no enredo “Mãe Menininha do Gantois” (2017)
  • Organizador do Samba de Roda de Guarulhos (2017–2019), cuja segunda edição reuniu 1.200 pessoas
  • Professor de música e cânticos de matriz africana no projeto Alujá (2020)
  • Instrutor de atabaque e ritmos do Candomblé no Ilê Àsé Igbo Omim desde 2018
  • Organizador da festa das crianças do Instituto Maris (2018)
  • Responsável por logística de eventos e transporte de convidados em celebrações religiosas

Projetos Sociais e Resistência Cultural

 Dudu Fagundes é também um ativista e idealizador de projetos com forte impacto social:


  • Fundador e diretor musical do Afoxé Omi Aladô (2014–2019), criado como resposta à discriminação religiosa sofrida durante sua graduação em Engenharia de Produção, onde era ridicularizado por ser do Candomblé. O afoxé participou de eventos como Revelando São Paulo, Marcha para Zumbi, Carnaval de Campinas e Recreio nas Férias.
  • Idealizador do Projeto Egbe Omode (desde 2020), voltado inicialmente para crianças, ensinando fundamentos do Candomblé de forma lúdica e educativa. Hoje, o projeto também alcança adultos e é itinerante, levando conhecimento e pertencimento a diferentes comunidades de axé.
  • Criador do evento Futasé (2019), voltado à valorização da cultura afro-religiosa.
  • Participante do filme Dona Flor e Seus Dois Maridos (2017), marcando presença na cena cultural nacional.

 Durante a pandemia da COVID-19, Dudu organizou a distribuição de mais de 5.000 cestas básicas para casas de axé e comunidades de matriz africana. A ação foi feita com apoio de amigos e voluntários, sem auxílio do poder público, beneficiando especialmente mães e pais de santo que ficaram sem renda durante o período.


Conclusão



Dudu Fagundes é, sem dúvida, um dos nomes marcantes do Candomblé. Sua trajetória mostra que tradição, resistência e inovação podem caminhar juntas. Com raízes profundas e um olhar voltado para o futuro, Dudu representa a continuidade viva do axé e a força das religiões de matriz africana no Brasil.



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