Mestre Alexandre Buda

Um Legado de Fé, Ritmo e Ensino no Candomblé

 Alexandre Buda, conhecido por Mestre Buda, é uma figura proeminente e apaixonada no universo do Candomblé e da música brasileira. Com 45 anos de idade e 28 anos de iniciado no Candomblé, sua conexão com a religião e a percussão é profunda, vinda de uma linhagem familiar rica em história e espiritualidade.

Origens e Conexão Espiritual A trajetória de Alexandre começou antes mesmo de seu nascimento. Sua mãe, após problemas para engravidar e sem esperança de ter filhos, foi a um terreiro. Lá, sua yalorixá previu a vinda de uma criança. Seis meses depois de uma consulta inicial, e já tendo passado por uma cirurgia sem sucesso para engravidar, uma entidade tocou a barriga de sua mãe e disse que ali "enxergaria uma luz azul". Nove meses depois, Alexandre nasceu, marcando o início de sua ligação com a espiritualidade desde o ventre materno.

Sua família é profundamente enraizada no Candomblé: ele é filho de uma yalorixá e neto de yalorixá. Sua tia-avó, por parte de pai, também era mãe de santo em Nago Ebá. Ele descreve a si mesmo como um "ser humano em eterna evolução, metamorfose ambulante", e sua paixão por ritmo e música é seu "combustível". O Candomblé e o atabaque foram suas "primeiras experiências com música".

O Nascimento do "Buda" O apelido "Buda" surgiu de forma despretensiosa. Após sua iniciação em Angola, Alexandre tinha o cabelo raspado e era "gordinho". Em um afoxé por volta de 1998 ou 1999, o pai Gilberto (Ogã Gilberto de Exu), Então Presidente do afoxé omo Dada, o Primeiro afoxé de São Paulo, comentou que ele parecia o Buda, e o apelido "pegou", com todos começando a chamá-lo assim. Embora já existisse outro "Buda" em São Paulo da família do finado Adão, o nome se identificou com Alexandre, que era o "branquinho que tocava o atabaque gordinho".

O Atabaque: Coração, Divindade e Instrumento Brasileiro 

 Para Mestre Buda, o atabaque é muito mais do que um instrumento musical. Ele o descreve como "meu coração fora do peito", sentindo uma profunda conexão e intuição ao tocá-lo, sabendo o momento certo de alterar o ritmo e a intensidade. Ele enfatiza que o atabaque "não é um instrumento africano" em sua forma atual, mas sim uma adaptação brasileira do que foi trazido da África. A forma de tocar e suas variações também foram se adaptando e criando ao longo do tempo. O atabaque é o primeiro instrumento para a maioria dos percussionistas que começam no Candomblé, e ele acredita que enriqueceu muito a música brasileira.

 O atabaque tem um significado espiritual profundo: ele é uma forma de Deus, um orixá, e recebe oferendas e serviços como os próprios deuses. Existe um cuidado especial com o instrumento, que vai além de apenas tocar; é preciso "zelar, conhecer o tambor e a pele". A consagração dos tambores no Brasil é um ritual bem fechado, realizado por poucas casas. Há um mito de que o atabaque é feminino, exigindo um tocador masculino para criar o som sagrado através da junção dos elementos feminino e masculino, embora haja exceções na prática.



O Projeto "Na Batida do Atori" 

 Mestre Buda é o criador do projeto "Na Batida do Atori", um espaço de ensino de percussão e Candomblé. A ideia surgiu de um amigo e compadre, que lecionava danças brasileiras e percebeu a demanda por aulas de percussão para orixás. Inicialmente, Mestre Buda trabalhava na área administrativa e não dava aulas, mas a procura crescente e a necessidade de algo que lhe trouxesse satisfação o motivaram a começar.

O nome do projeto, "Na Batida do Atori", foi dado por Opotun Vinicius após Buda ligar para o mesmo questionando se ele poderia dar aula devido a uma grande procura por parte das pessoas que o questionava a respeito de aulas de atabaque, e qual o nome ele poderia dar ao Projeto, em resposta Opotun Vinicius Respondeu: "Na Batida do Atori" fazendo referência ao seu orixa (Oxoguian). As aulas começaram presencialmente em Santa Cruz, depois se mudaram para a Mooca e, com a pandemia, se adaptaram para o formato online.

Filosofia de Ensino e Impacto 

 Alexandre Buda enfatiza que suas aulas vão além da técnica musical. Ele ensina a zelar pelo instrumento, a tratar o couro, e a criar uma ligação com o atabaque, que é o "elo com o orixá". Para ele, é essencial entender que o tambor é uma divindade e um instrumento de invocação. Ele valoriza a humanização do ensino, mesmo à distância, mostrando que todos são capazes de aprender.

O projeto "Na Batida do Atori" se tornou uma família para seus alunos. Mestre Buda compartilha experiências emocionantes de orixás "virando" durante suas aulas, como um Xangô que se manifestou no dia de seu aniversário.

A Questão das Mulheres no Atabaque 

 Mestre Buda tem uma visão aberta sobre a participação feminina na percussão de Candomblé. Ele menciona que há pessoas mais velhas que contaram histórias de mulheres que tocavam muito bem. Ele também aponta que, na ausência de um ogã (tocador de atabaque masculino), é necessário que as pessoas, sejam homens ou mulheres, saibam tocar pelo menos o básico. Ele acredita que a única limitação para tocar atabaque é ter os membros superiores, embora conheça pessoas sem mãos que tocam maravilhosamente bem. Ele reforça que "o que não pode é não ter quem toque".

Um Chamado à União e Humanidade 

 Alexandre Buda acredita que o Candomblé precisa de mais união e empatia. Ele vê a comunidade como uma família e valoriza a colaboração, dizendo que "dar a mãozinha junto é melhor do que andar sozinho". Sua jornada é um testemunho de como a fé, o ritmo e o ensino podem se entrelaçar para formar um legado duradouro e inspirador no Candomblé.