Babalossâins: 

Os Guardiões do Poder das Ervas no Candomblé

 No coração do Candomblé, reside um conhecimento ancestral e vital, personificado pelos babalossâins. Estes sacerdotes, conhecidos por diferentes nomes em diversas nações – como babalewe na nação iorubá, cambono insaba na nação bantu, e mihuntó omã na nação fon – são os pilares que conectam a comunidade às divindades donas das matas, como Ossâim, Agué e Catendê. Seu papel vai muito além da simples coleta: eles são os mestres das ervas, essenciais para a própria existência da religião.

A Fundamental Importância das Folhas

 Não é exagero afirmar que "sem elas não haveria a religião". As folhas são de importância fundamental e são indispensáveis em todos os rituais do Candomblé. Somente o babalossâim possui o conhecimento e a autoridade para utilizá-las devidamente, pois é ele quem conhece as palavras sagradas que liberam seus poderes.

Um Conhecimento Profundo e Multifacetado

Ser um babalossâim exige uma preparação litúrgica rigorosa e um saber que abrange diversas áreas. Eles precisam dominar:

  • O valor sagrado e simbólico de cada erva.
  • A combinação ritual correta das plantas.
  • Os horários certos para a colheita, pois certas folhas podem ter "outro dono" em momentos diferentes do dia.
  • As propriedades, uso terapêutico e farmacológico das ervas.
  • A distinção entre ervas eró (que produzem calmaria, tranquilidade e paz) e ervas gun (quentes, que "acordam" e movimentam o corpo humano).
  • O conhecimento sobre ervas perigosas, que não podem ser maceradas com as mãos e exigem o uso de um pilão, especialmente se destinadas a Babá Egum e Exu.
  • A correspondência das ervas com os diversos orixás, suas características e classificações para os vários rituais.

 Este vasto conhecimento é transmitido principalmente de forma oral e visual pelos sacerdotes e adquirido também pela convivência com os mais antigos, garantindo que esse saber seja passado de geração para geração.

O Ritual Sagrado da Colheita

 A coleta de ervas não é uma tarefa trivial; é um ritual próprio que exige total reverência e preparo. O babalossâim deve estar com o corpo limpo, espiritual e fisicamente. É fundamental saber como entrar na mata, como agradecer e retribuir pela retirada das folhas, e conhecer as cantigas adequadas.

 Há um profundo respeito a Ossâim, o senhor das ervas, a seu companheiro Aroní, a Oxóssi (o grande caçador e senhor das matas) e às Iyamís. Antes da colheita, é comum levar um agrado para Ossâim e Aroní — como moedas, mel, fumo de rolo e búzios — como forma de pagamento pelos seus préstimos à religião e aos iniciados. Além disso, é preciso ter cuidado extremo com as palavras ao penetrar nas matas, pois falar o nome de certas folhas pode fazer com que elas se "escondam" ou sejam escondidas por Ossâim, mesmo que o catador esteja ao seu lado e não as veja.

Babalossâins: Além do Ritual, a Cura

 Os babalossâins não são apenas zeladores dos rituais; eles também atuam como curandeiros, utilizando as ervas para a cura espiritual ou física. Em alguns Axés, existe um cargo semelhante, o das babá massí, que são pessoas iniciadas do orixá Oxóssi e responsáveis por preparar os banhos de folhas para a comunidade.

 Em suma, os babalossâins são figuras indispensáveis no Candomblé, detentores de um saber milenar que garante a continuidade e a vitalidade da religião através do poder sagrado das ervas.