Bára:
O Guardião Individual e a Ponte Essencial na Sua Relação com o Orixá
No vasto e complexo universo do Candomblé e das tradições iorubás, cada elemento possui um papel fundamental no equilíbrio entre o mundo físico e o espiritual. Um desses pilares, muitas vezes pouco compreendido em sua profundidade, é o Bára (ou Bará). Ele não é apenas mais um orixá, mas sim uma entidade particularíssima, um Exu individual das pessoas, representando a própria parte física do homem, o esqueleto energético. Conhecido como “morador do corpo” (ungbà ará) ou “rei do corpo” (obá ará), o Bára é uma peça insubstituível na jornada de cada indivíduo.
A Essência: Força, Movimento e Proteção Corporal
A essência do Bára está intrinsecamente ligada à nossa existência física e energética. É ele quem proporciona a força, os movimentos, regendo os órgãos internos e imprimindo e introjetando a energia em nosso organismo. Pense nele como uma carapaça protetora que gera dinamismo, impulsiona a pessoa e permite sua evolução. Ele é, em sua natureza mais profunda, um guardião do corpo físico, um protetor, sendo parte inseparável do ser humano. Em outras palavras, o Bára cuida do corpo que ele próprio possui: o nosso.
A Função Crucial: Intercomunicação com o Orixá
Uma das funções mais vitais do Bára na relação entre indivíduo e orixá é a sua capacidade de ser quem faz a intercomunicação do homem com o seu orixá. Ele atua como uma ponte energética, facilitando essa conexão profunda com a divindade pessoal.
É importante ressaltar que, apesar de sua importância na comunicação, o Bára é independente de qualquer orixá. Enquanto o orixá está ligado ao divino, a Olorum, o Bára está ligado à parte física. Essa independência é tão marcante que mesmo os iniciados consagrados para o orixá Exu possuem e assentam o seu Bára. Seu assentamento pode, se necessário, ficar no mesmo local onde está o igbá do orixá do iniciado, e após ser arrumado, seguirá as mesmas normas e características do orixá da pessoa. Durante a feitura, o sacerdote pode determinar ou não sua confecção, mas ele será sempre reverenciado no agbá Exu ou no ojubó da casa de candomblé.
Bára e o Equilíbrio Vital: O Ato do Borí
A relação do Bára com o equilíbrio físico e espiritual é evidenciada em rituais como o Borí. No ato do Borí, o Bára também se alimenta, e essa alimentação é fundamental para evitar uma descompensação e produzir um equilíbrio entre a cabeça física e a cabeça espiritual. Este processo fortalece tanto o corpo físico quanto o corpo astral, restabelecendo o elo entre a pessoa no aiê (mundo físico) e seu duplo no orum (mundo espiritual). É assim que continuamos a cuidar do corpo que o Bára possui: o nosso.
O Cultivo e a Proteção do Seu Guardião Pessoal
O Bára é cultuado privativamente pela pessoa para quem foi assentado, passando a ser considerado Bára-aiê. Por ser tão particularizado, o Exu Bára, após assentado, tem que permanecer sempre próximo àquele para quem foi assentado. Ele age como o sentinela de quem cuida dele, e seu nome não deve ser alardeado, pois pessoas mal-intencionadas podem, através dele, praticar maldade contra o seu possuidor.
Para manter seu Bára satisfeito e ativo, ele precisa ser agradado constantemente com oferendas. Entre elas, destacam-se ajabó, frutas, doces (com a ressalva de evitar o mel, que adoça e acalma demais Exu!). Além disso, um pouco da comida favorita da pessoa, água de coco, acaçás, ebô e caldo-de-cana são muito apreciados, pois "tudo que a nossa boca come, nosso Bára também come!". Quando uma pessoa oferece um banquete para o Bára, é crucial que ela prove um pouco de cada comida ofertada, participando de uma refeição comunal com ele.
Conclusão
Em suma, a essência do Bára reside em sua função de guardião individual do corpo físico e energético, um pilar de sustentação para a vida terrena. Sua função primordial na relação com o orixá é de mediador e facilitador da intercomunicação, garantindo não apenas a conexão com o divino, mas também o equilíbrio e a proteção que são fundamentais para a evolução do indivíduo em seu caminho espiritual e terreno. Cultivar seu Bára é cultivar a si mesmo, garantindo a harmonia e o dinamismo necessários para a jornada da vida.
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