Babá Egbé Cláudio de Oxum: Um Coração Aberto para o Sagrado e a Representatividade
Babá Egbé Cláudio de Oxum é uma figura multifacetada e inspiradora, que transita entre o sagrado, a arte, a comunicação digital e a esfera pública. Guiado pela máxima que "Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal", ele tem dedicado sua vida a honrar suas raízes, compartilhar conhecimentos e lutar pela representatividade de sua fé e identidade.
A Iniciação no Sagrado: Um Destino Escrito Duas Vezes
A jornada espiritual de Cláudio é notável por ter começado antes mesmo de seu nascimento. Ele é um abiaxé, uma criança que teve sua iniciação no ventre materno, quando sua mãe foi iniciada. Naquela tradição, um abiaxé se consagrava para ser um cargo.
Contudo, a espiritualidade de Cláudio se revelou mais profunda: observou-se que ele seria um "rodante", o que exigiu uma segunda feitura com todas as liturgias, realizada quando ele tinha apenas nove anos de idade, sob a orientação de Pai Wilson de Logun Edé (Pai Abelodê). Infelizmente, Pai Wilson faleceu, e Cláudio não pôde dar continuidade às suas obrigações com ele.
Foi Pai Pérsio de Ayrá quem o socorreu, realizando as liturgias fúnebres de Pai Wilson e lavando a cabeça de Cláudio. A partir desse momento, Babá Egbé Cláudio cumpriu suas obrigações de sete e 21 anos com Pai Pérsio. Sua gratidão por Pai Pérsio é imensa, expressa na frase em yorubá: "Babá mi Airá Seyin" (minha gratidão eterna por quem sou e por quem me tornei).
Apesar de ter suas obrigações mais do que em dia, Cláudio não abriu sua própria casa de axé devido a um pacto de fidelidade com sua mãe, Carmem de Oxum. Ela é a matriarca do Ilê Olá Omim Axé Opô Araká (Entre a Água e o Arco-Íris) e conduz o terreiro – que é tombado pelo Patrimônio Histórico de São Paulo – ao lado de seu filho, Karlito Maciel de Oxumaré. Babá Egbé Cláudio, por sua vez, cuida das relações sociais do Ilê. Sua mãe, Carmem de Oxum, já completou cinquenta anos de santo e está feliz com a casa tombada, agora pelo Patrimônio Histórico Nacional.
"Através do Espelho": A Voz Digital do Sagrado
A ascensão de Babá Egbé Cláudio como influencer digital não foi uma escolha planejada, mas uma "confluência de forças". O chamado veio do clã de Oxumaré e Yewá (Clã Dan Aholu Magbo) para participar de uma live. Seu brilho foi notado por seu irmão carnal, Karlitos de Oxumaré, a quem Babá Egbé considera sua "alma gêmea", e que o incentivou a ter seu próprio espaço digital.
Foi nesse contexto que nasceu "Através do Espelho", seu programa digital. Este canal surgiu em um período desafiador, durante a pandemia, quando a angústia paralisava Cláudio diante das mortes no Brasil, especialmente em São Paulo. O programa tornou-se um espaço vital para ele "se dizer" e também para "ouvir, dos outros, suas próprias emoções", além de permitir a continuidade de seu sagrado, transformando "o ouro de Oxum em palavras e cantos".
Representatividade e Reconhecimento
Além de sua atuação espiritual e digital, Babá Egbé Cláudio é um ativo defensor da representatividade. Atualmente, ele integra a equipe da Secretaria de Justiça e Cidadania de São Paulo, onde busca exercer sua voz, afirmando: "sou negro, sou gay, sou de candomblé". Ele acredita firmemente no crescimento dessa representatividade, não apenas no meio executivo, mas também no parlamentar e artístico. Cláudio critica abertamente o medo que muitos candomblecistas sentem, levando-os a se disfarçarem de espíritas, incapazes de demonstrar pertencer a uma religião que ele descreve como "ética, séria, e que tem que ser honrada em nosso país".
Em 3 de dezembro de 2021, Babá Egbé Cláudio recebeu os títulos de Doutor Honoris Causa e Capelão da Reitoria da Faculdade Formação Brasileira e Internacional de Capelania e da Ordem de Capelães do Brasil. Essas honrarias foram concedidas "pelo seu extraordinário serviço prestado à sociedade, contribuindo para o progresso das ciências, das letras e das artes e por beneficiar de forma excepcional a humanidade e o País". Apesar de feliz com a honraria, ele humildemente rende graças a Oxum todos os dias. Sua maior alegria foi ver um casal de africanos vibrando e chamando-o de "Oxum verdadeira", destacando seu nascimento em 24 de agosto, dia dos festejos do Orixá na África.
Artista e Guardião da Tradição
A paixão de Cláudio pelo sagrado se estende à arte. Sua primeira profissão a prover sua vida foi a produção de paramentas, os adereços dos Orixás das religiões afro-brasileiras. Ele jamais abandona essa arte, que considera sua primeira. Por meio desse ofício, suas obras já foram expostas no Espaço Britânico, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, ao lado de outros artistas plásticos, incluindo um inglês consagrado a Oxóssi. Lá, ele expôs estátuas das Yabás e uma estátua de Oxumaré. Babá Egbé Cláudio não esconde sua paixão pela estatuária, que ele coleciona, desde sua própria produção até a africana.
Babá Egbé Cláudio de Oxum segue sua vida, como todos os adeptos do Candomblé, trabalhando incansavelmente para engrandecer o sagrado e, principalmente, para dar continuidade ao legado do Ilê Olá Omim Axé Opô Araká de Carmem de Oxum, sua mãe. Sua trajetória é um testemunho de fé, resiliência e dedicação ao serviço da comunidade e da cultura afro-brasileira.
REDES SOCIAIS
Instagram: @claudioxum

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