História da chegada da SANTERIA CUBANA a Cuba
A SANTERIA CUBANA, também conhecida como Regla de Ocha, Religión Lucumí, ou La Religión de los Orishas, emergiu no contexto da escravidão. Foram trazidos da África Ocidental — especialmente os iorubás (hoje Nigéria/Benin) — entre os séculos 16 e 19 para as plantações de açúcar em Cuba.
Sob domínio espanhol, apenas o catolicismo era permitido legalmente. Para preservar suas crenças, os escravizados sincretizaram seus deuses (orixás) com santos católicos, dando origem à Santería como prática oculta nos cabildos de nación — associações étnico-religiosas formadas por africanos em Cuba.
Após a abolição da escravatura em 1886, houve maior disseminação. Cabildos e casas de santo passaram a ser espaços centrais para a preservação dessa tradição religiosa.
2. Desenvolvimento ao longo do tempo
Durante o século XX, especialmente após a Revolução Cubana (1959), a santería sofreu repressão. O regime marxista-leninista inicialmente considerava-a superstição, restringindo rituais, empregos e direitos para praticantes.
No entanto, na década de 1990, com o Período Especial após o colapso da União Soviética, o governo relaxou políticas religiosas e passou a promover o santurismo como atrativo cultural e turístico, legalizou igrejas e permitiu práticas religiosas abertamente.
Desde então, a Santería tem se expandido e sido cada vez mais valorizada como parte da identidade afrocubana, proliferando não só na Ilha, mas nas diásporas em EUA, Europa e América Latina.
3. Elementos presentes na prática da SANTERIA CUBANA
- Sincretismo religioso: orixás vinculados a santos católicos (por exemplo, Oxum com Nossa Senhora da Caridade do Cobre)
- Divinação: uso do sistema Ifá, interpretado por um babalawo, e outros métodos para consultar os orixás
- Rituais e oferendas: uso de alimentos (peixe defumado – yiyan), milho assado (agbado), hutía defumada, flores, bebidas e sacrifício animal em oferendas (ebbó)
- Música e dança: batá drums, cânticos em lucumí, dança ritual, toque de santo para invocar possessão pelos orixás
- Altares (thrones): espaços sagrados montados em casas ou comunidades com símbolos, tecidos e objetos associados aos orixás
4. Orixás cultuados em Cuba
Alguns dos orixás mais venerados incluem:
- Eleguá: guardião dos caminhos, sempre invocado no início dos rituais
- Oxum (Ochún): associada às águas doces e à Virgem da Caridade (padroeira de Cuba)
- Obatalá: figura da santidade e pureza, frequentemente associada a pombas brancas
- Chango (Xangô): orixá do fogo e do trovão, sincretizado com Santa Bárbara
- Babalu-Ayé: deus da cura e doenças, vinculado a São Lázaro
- Há dezenas de outros cultuados conforme linhagem e tradição do ilé (casa de santo)
5. Festas e celebrações importantes
- Festas dos orixás individuais: envolvem oferendas, danças, música, feijoadas ou refeições específicas, duração varia conforme orixá.
- Procissão de la Virgen de la Caridad del Cobre (8 de setembro): festa cívico-religiosa onde se celebra Oxum sincretizada, com peregrinações em Havana e outras regiões do país
- Toque de Santo (oró): cerimônias coletivas em que os tambores batá tocam sequências específicas e se busca a possessão pelo orixá, permitindo comunicação direta com os espíritos
6. Contexto social e cultural atual
A Santería permanece vivíssima no tecido cultural cubano. Estima-se que até 80 % da população realiza algum tipo de prática santería, ainda que não siga a religião formalmente.
Ela também tem sido importante espaço para a comunidade LGBTQIA+, funcionando como nueva familia espiritual e quebrando normas binárias de gênero dentro dos espaços ritualísticos.
Embora alguns aspectos tenham sido comercializados para o turismo (como tours santería e vendas de contas/colar), a tradição autêntica continua viva em ilés e lares cubanos.
A SANTERIA CUBANA é uma religião histórica que nasceu da resistência cultural e espiritual dos povos africanos escravizados em Cuba. Seu desenvolvimento foi marcado por sincretismo religioso e adaptação social. Hoje, é um pilar da identidade cultural cubana, combinando tradição, música, cura, e solidariedade espiritual.
1. Iniciação na Santería (Kariocha / Hacerse Santo)
O que é e seu significado
A iniciação é chamada de kariocha, hacerse santo ou hacer Ocha, um rito obrigatório para se tornar um santero ou santera com capacidade ritual plena.
Na santería cubana, o iniciado é chamado de iyabó ou iyawó, “escravo ou noiva do orixá”, e deve passar por uma série de ritos e restrições ritualísticas por um ano, o chamado iyaworaje.
Estrutura do processo
- Busca de padrinhos rituais: Um padrinho/a (Olorisha) lidera a cerimônia, acompanhado por um oyubona como testemunha.
- Duração: Geralmente são sete dias de cerimônia intensiva, embora versões mais curtas (3–5 dias) existam em alguns casos.
- Conteúdo: Inclui batismo ritual, uso de oráculos de Ifá, confecção das idades (elekes), sacrifícios (ebó), lavagem dos orixás (santo lavado), entrega dos otanes (colares sagrados), e adimú (várias etapas rituais).
Período pós-iniciação
Após o rito, inicia-se o iyaworaje (restrições de vestuário, alimentação, abstinência sexual etc.) por cerca de um ano.
Exemplo real: dormir e comer no chão por três meses, permanecer em branco, sem corte de cabelo etc.
Ao final deste período, realiza-se o ebó del año e ocorre a celebração do cumpleaños de santo, aniversário da iniciação de forma pública e ritual.
2. Níveis e cerimônias menores antes da coroa
Antes de atingir a coroa (full initiation), existem cerimônias menores como:
- Eleke (recebimento de colares sagrados)
- Warriors (guardiões)
- Icofa (cadeias de Ifá)
- Adimu Orishas ou lavado dos santos para outros fiéis
Essas são tradições preparatórias, porém não conferem o status de iniciado completo. Um praticante explica:
“We usually don't say we're initiated in Lucumi unless we're crowned … the 7-day kariocha ceremony.”
E outro observa:
“The only thing that makes you initiated in santeria is the kariocha or passing to the igbodu of ifa.”
"Normalmente, não dizemos que somos iniciados no Lucumí a menos que sejamos coroados… a cerimônia de kari ocha de 7 dias."
E outro observa:
"A única coisa que te torna iniciado na Santeria é o kari ocha ou a passagem para o igbodu de Ifá."
3. Os Toques de Santo – Cerimônias com tambores
O que são os toques
O bembé, ou toque de santo, é a cerimônia central com tambores batá, canto, dança e egregoras que invocam os orixás, podendo culminar em possessão ritual.
Cada orixá tem um ritmo específico, e os tambores devem executar de forma precisa para criar a atmosfera espiritual apropriada.
Instrumentos sagrados
Os tambores batá são essenciais: cada conjunto inclui Iyá (maior), Itótele e Okónkolo, cada um com função ritual própria.
Eles contêm o espírito Añá, considerado um orixá dentro do conjunto de tambores, e apenas iniciados podem fabricá-los, consagrá-los e tocá-los.
Tipos de suíte de ritmos
- Oru del Igbodu (ou Oru Seco): 23 ritmos padronizados, tocados no início da cerimônia.
- Suite com canto e vocalização: encena a transferência de espíritu Añá para novos batá através de iniciações musicais (designadas drums initiated).
Propósito e efeito
O toque busca a posessão do santo, quando o ouvinte ou sacerdote entra em transe e manifesta o orixá, dançando e recebendo atributos rituais.
Prática local em Cuba
Em Havana, os toques geralmente acontecem de dia, e em Matanzas às vezes à noite, refletindo variações regionais dentro da ilha.
4. Entendimento dentro da comunidade
Praticantes comentam que o aprendizado acontece por imersão:
“We generally don't offer formal classes … we train our own godchildren face to face … You learn by doing.”
Outro esclarece:
“... before making Osha … undergo ceremonies like Elekes, Warriors, Icofa… all pave the way to KariOcha…”
"Geralmente não oferecemos aulas formais… treinamos nossos próprios afilhados cara a cara… Você aprende fazendo."
Outro esclarece:
"... antes de fazer Osha… passa por cerimônias como Elekes, Guerreiros, Icofá… tudo pavimenta o caminho para o Kari Ocha…"
Esses relatos reforçam a natureza comunitária, oral e prática dos ritos de iniciação.
5. Resumo comparativo
| Aspecto | Iniciação (Kariocha) | Toques de Santo (Bembé) |
|---|---|---|
| Objetivo | Tornar-se santero/a com poder ritual completo | Invocação/posse dos orixás via música e transe |
| Duração típica | Aproximadamente 7 dias (+ ano de iyaworaje) | Algumas horas a noite, dependendo do evento |
| Participantes | Iniciado, padrinhos, testemunhas | Sacerdotes, tamboreiros, músicos, comunidade |
| Elementos principais | Elekes, sacrifícios, otanes, lavagem | Tambores batá, cantos, danças ritualísticas |
| Resultado ritual | Status formal de iniciado, obrigações religiosas | Manifestação direta dos orixás e energia espiritual |
A iniciação (kariocha) na Santería Cubana é um rito complexo e profundo, que exige uma preparação física, emocional e financeira. Apenas após esse processo o indivíduo se torna membro pleno, capaz de liderar rituais e transmitir tradições.
Por outro lado, os toques de santo são cerimônias coletivas vibrantes, em que a música, a dança e a energia ritual se unem para criar contato direto com os orixás.
Esses dois aspectos — iniciação e toque — são pilares da vivência ritual da Santería, responsáveis por sua força espiritual e cultural milenar.


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